segunda-feira, 11 de fevereiro de 2008

Moda, pra modiquê?

"Quando o homem inventou a roda, logo Deus criou o freio. Um dia, um feio inventou a moda, e toda a roda amou o feio."

Eu assistia a um filme com uma amiga quando lembrei dessa frase do Zeca Baleiro. Ela é estudante de moda, nós dois somos estudantes de história, o filme, "Maria Antônieta" conta a história da rainha da França, esposa de 
Luís XVI, último rei da dinastia Bourbon, que foi morto na revolução francesa.

É interessante observar os diferentes olhares que nós lançamos ao filme. Ela, ficava maravilhada com todo aquele luxo, e o "ócio criativo" dos membros da corte de Luís XVI, que produziu coisas inegavelmente belas. Eu, por outro lado, ficava abismado ao ver toda a aquela riqueza, e a "elegância" exagerada dos nobres franceses, que chegava a ser
desconfortável e ridícula, enquanto a população passava fome.

Moda. Para minha querida amiga, estudante de moda, serve para criar o belo, eu acho que serve para determinar o belo.

De acordo com o ponto de vista dela, até acho legal a moda, principalmente porque posso criar o meu belo, então defendo a moda individual, o que eu não aceito é a moda coletiva. A tendência que faz com que as pessoas se vistam ridiculamente iguais, e todo mundo se acha o máximo, porque está dentro do padrão.

E pra que serve a moda coletiva? Marx explica! Capital, meus caros, capital! O socialismo, por falta de liberdade, acabava obrigando as pessoas consumirem todas o mesmo produto, e o capitalismo, o sistema da liberdade, encontrou o seu jeito sorrateiro de obrigar também.

Prefiro minha calça rasgada, meu tênis velho, macio e fora de moda. Além de ser único, estou na moda, na minha moda.

domingo, 3 de fevereiro de 2008

Sem falsas dores

Eu sou mesmo muito sentimental, confesso, mas racionalizo quase todos os sentimentos que posso. E, o mais importante, jamais finjo o que não sinto, nem sei.

Um tio meu faleceu ontem, ninguém me criticou abertamente, mas ficou um clima de estranhamento dos meus familiares pelo fato de eu não ter chorado, ou ter dado sinais de estar profundamente abalado. Tudo bem, era meu tio, irmão de meu pai, mas seria mentira se eu dissesse que ele fará falta na minha vida, porque ele não fazia parte dela.

Meu tio alternava temporadas em Teresina e em Brasília, e o nosso contato era tão pouco, que eu raramente sabia em qual das duas cidades ele estava. Forcei a memória e não consegui lembrar de uma conversa que tivemos, simplesmente eu não sei nada da vida dele, ele tão pouco partilhou da minha. Por que então, espera-se que eu sinta sua perda? Todos na minha família são cristãos, e para um cristão a morte não passa de uma passagem para outro plano; sempre choramos nossos mortos, porque a saudade dói, mas, se não tenho motivos pra sentir saudades, por que chorar? Prefiro crer que ele está bem melhor agora.

Sinto muito sim, pelos que tinham um contato maior com ele, e estão sentindo muito a sua perda, como meu pai e minha avó, respeito a dor deles, mas não tenho obrigação de sentir a mesma.

Eu não suporto gente que parece gostar de velório, logo quer ser o astro da "festa", quer mostrar que está sofrendo muito, que era muito próximo ao falecido, que precisa de consolo. Tem gente também que finge uma contrição que sabemos que não é verdadeira: "Vou ficar orando por ele." Quando se sabe que aquilo é só "solidariedade", mas ao sair de perto dos que estão realmente sofrendo, vai cair na avenida e curtir o carnaval. Poxa, ser feliz é direito seu, mas não finja uma dor que não é sua.

Que me taxem de insensível, mas o meu sofrimento, quando houver, é sincero.