segunda-feira, 30 de janeiro de 2012

Faltando um pedaço

Eu tentei: Chico, Neruda, Drummond, Vinícius, Aurélio, Caetano, Pessoa, Gil, Camões, Marquez, Arnaldo, Djavan, São Paulo, Rossi, Baleiro, Odair... Tentei nas comédias românticas de Hollywood, nos muros pichados, nas citações anônimas que assinam como Caio, Clarice ou Jabor. Nos videos publicitários do 12 de junho, no horóscopo da internet, até prestei atenção ao mais novo hit sertanejo universitário que tocou no ônibus.
O amor não é isso.

O amor não é coisa alguma até doer. O amor não é nada se não for abismo. O amor não é palavra, embora precise ser dito. O amor não é sublime. O amor não é recado deixado na parede do banheiro. O amor não é porta retrato com vidro pra quebrar em caso de saudade. O amor não é um sms de madrugada. O amor não é, em si mesmo.
Amor é mais.

Farelos de pão e o café que sobrou na cafeteira se parecem mais com amor.
O amor são coisas que eu não sei dizer.

sábado, 21 de janeiro de 2012

Para um encontro casual ou O meu amor de criança

Vamos, movam-se!
Aqueçam por força o óleo das engrenagens do cérebro
Que dessa vez é paixão antiga

Minhas fáceis palavras, não fujam dos raios x dos olhos dela
Não me deixem tão sozinho e nu
Não abandonem aqui essas poucas que me expõem ao ridículo

Vamos ensaiar, palavras!
A coreografia pode ser aquela que funciona sempre [quando não é ela]
Que a música é um rock balada em 4/2:

123, fingir desinteresse!
... [espaço reservado ao que ela disser]
7 e 8 humor inteligente [façam-na sorrir]
agora um Elogio sincero e súbito
[as palavras dela vão fugir]
hora da Bobagem fazer a descontração
sorriu, caminho aberto: o Silêncio!

-fim do primeiro ato-

Hora da apresentação, evitar os olhos dela
Ótimo, começar a dança.
...
7 e 8, ela sorriu.
Palavras?

terça-feira, 10 de janeiro de 2012

Do desassossego

O mês de agosto tem gosto de remédio para verme, e talvez tenha o mesmo efeito, pois setembro é natal. Outubro é sempre às duas e meia da tarde, assim como novembro tem cheiro de feijão no fogo na hora da fome e é aquela agonia pra que o tempo passe.
Compreendendo que dezembro seja o instante feliz, que metáfora eu deveria utilizar para deixar bonito sutil e simples isso que é tão pouco compreensível e que por isso mesmo não carece de explicação?
Eu sei que aqui em casa a geladeira tá fazendo um barulho de trator e o tapete da sala se sente sozinho; o ventilador fica dizendo que não com a cabeça, o leite estragou e a cama está mal acostumada a me ter só para ela, mas tudo isso é janeiro.
De dezembro eu só sei dizer, talvez, que havia passarinhos na rodoviária e que o trânsito tentou me segurar com um abraço. Sei dizer que eu não ouvi as músicas de natal e que as luzes da cidade só brilharam nos meus olhos, de dentro pra fora. Sou incapaz de descrever o gosto, assim como não sei de cores. Talvez a textura do mês de dezembro se assemelhe à de uma mão de mulher, e talvez tenha cheiro de alguma coisa que remeta a um momento feliz da infância.
É muito pouco qualquer coisa que eu diga, mas o livro que grita o seu nome de noite como criança abandonada me ensinou que escrever o que eu sinto alivia a febre de sentir. Fosse ficção, queria a vida como um reggae do Gil: congregar, reunir elementos diferentes. Pois assim ela o é, e eu quero. Quero o alegre e o triste, cheiro de mato e internet, café e chocolate, o doce e o azedo, o leve e o pesado dessa coisa tão simples, 
incompreensível 
e única 
da presença
de você.