segunda-feira, 18 de abril de 2011

Manifesto anti-poesia

Ninguém mais egoísta nesse mundo que um poeta, esse ser que acha que o seu coração é maior que o mundo. Que a sua dor é maior que a dos outros, que seus amores são mais bonitos e mais intensos.
Mas a culpa não é só do poeta, é da poesia. Poesia é uma forma de egoísmo, nasce no egoísta poeta e circula pelos egoístas leitores que apropriam-se dela sempre pensando que são os seus sentimentos escritos ali. Triste.
Vou fazer um anti-poema, algo anti-subjetivo, vou falar dos sentimentos dos outros. Melhor, não vou falar dos sentimentos de ninguém. Eu quero ser a poesia de pessoa nenhuma. Ou, no máximo, a poesia dos sem poesia. A poesia do insensível, do materialista, a poesia do senso comum, enfim, algo como:

Felicidade ou ausência de sentir

Finalmente é dia 5
E esse elevador que não chega?
É um calor essa hora...
Sai da rua moleque!

Ah, enfim, tirar os sapatos
Tomar um banho e dormir:
Acho que esse film...


quinta-feira, 7 de abril de 2011

Admito que perdi

A melhor forma de me abalar, para o bem ou para o mal, é com uma canção. Cante a música certa, recite letra, ou apenas a execute perto de mim e você controlará o meu humor, ou até mais que isso. Com uma música eu posso entrar em êxtase, posso ficar feliz, ficar irritado. Ontem o poder das músicas serviu para me deixar em pedaços.
O fim de um relacionamento é sempre doloroso. Há dias a dor me dói [para lembrar mais uma canção], e eu pensava, resolver isso, fosse qual fosse a solução encontrada, me aliviaria essa dor. Mero engano.
Eu achei, alguns anos atrás, que sabia amar. E eu acho que já soube mesmo. Durante algum tempo, eu consegui viver uma ligação afetiva tão intensa e tão profunda que contagiou a muitas pessoas, que causou inveja em outras, mas que, sobretudo, fez de mim e dela [acho que quem lê esse blog sabe de quem se trata] duas pessoas algo acima da mortalidade.
Eu vivi o amor mais bonito de que já tive notícia, um amor mais bonito do que o dos [muitos] livros que já li, mais bonito que o das [muitas] canções e poemas que ouvi e li. Acredite, o amor que eu vivi exaure a dimensão dos significados que somos capazes de atribuir a essa palavra.
E por que acabou, Éverton? Esse amor tão verdadeiro, tão maior que o mundo, acabou por quê?
Eu não sei dizer, eu juro que não sei. Eu sei que a culpa foi minha, porque foi em mim que isso aconteceu. E mesmo nem acho que acabou, pra citar uma canção, "o amor só mudou de cor, agora já tá desbotado, corra, lá vem a tristeza atirando pra todos os lados".
E as canções que ela cantou chorando pra mim ontem vão doer para o resto da minha vida, assim como as boas lembranças trarão uma mistura de felicidade e dor, com o passar do tempo, com uma dose cada vez maior de felicidade e cada vez menor de dor.
Eu "estou em milhares de cacos", mas como me ensinou um sábio eletricista, não se pode fazer a omelete sem quebrar os ovos. Acho que me quebrar não é um fim, é um passo para outra forma de ser.
Eu não sei como será a minha vida, ninguém o pode saber, mas também não faço questão.
Serei historiador de mim, e não penso em me julgar, mas sobre o que me aconteceu ontem, o que tenho a dizer:
Admito que perdi.