quinta-feira, 17 de março de 2011

O menino que engolia mundos

Eu devia estar trabalhando num artigo científico agora, mas eu nem preciso dizer que é muito mais prazeroso estar escrevendo no meu diário público.
Já que é um diário, experimentemos uma escrita mais tradicional:
Hoje eu acordei tarde porque é quinta-feira e eu não trabalho pela manhã. Por causa dessa "folga" tenho sempre muitas coisas planejadas para as quintas de manhã, as quais nunca realizo porque sempre acabo vencido pelo sono. A não-obrigação de acordar cedo torna-se um convite irresistível para dormir até mais tarde.
Como acordei tarde demais, a preguiça fez com que eu ficasse o resto da manhã deitado assistindo documentários e pensando na quantidade de tarefas que eu tenho para realizar. Almocei sem vontade, mesmo estando com fome, e fui tomar um banho que pela primeira vez nessa semana não seria apressado, aproveitei para lavar os cabelos e me barbear [normalmente tenho que escolher entre as duas opções ou mesmo abrir mão das duas]. A consciência pesou, por não ter feito nada, o relógio marcava 2 da tarde quando eu finalmente saí de casa. No caminho até a universidade, lembrei de parar numa oficina e finalmente dar um aperto na corrente da moto, a tempos adiado porque eu sempre saio de casa atrasado e não posso parar. Enquanto pilotava lembrei das duas produções que eu devo ao coordenador da minha escola, pensei no artigo que preciso aprontar até o fim de semana, na quantidade de livros e textos para ler até as próximas aulas, nas cobranças dos meus professores, e na vontade que eu estava de voltar a dormir. Quis passar na biblioteca para pegar uns livros, mas eu cheguei à universidade já no horário da aula. Entrei na sala de aula, e o resto não é interessante.
Na verdade, nada nesse texto é interessante. Este dramático parágrafo foi só a tentativa desesperada de despertar compaixão nos outros.
Coitado do Éverton, ele trabalha demais.
Ou, talvez essa seja uma tentativa desesperada de explicar a mim mesmo o fato de eu não conseguir produzir como deveria.
Hoje eu li no blog do pofessor Denílson Botelho:
Na trincheira do dia-a-dia, não há lugar para o ateísmo. Não existe algo como "não venerar". Todo mundo venera. A única opção que temos é decidir o que venerar. E o motivo para escolhermos algum tipo de Deus ou ente espiritual para venerar - seja Jesus Cristo, Alá ou Jeová, ou algum conjunto inviolável de princípios éticos - é que todo outro objeto de veneração te engolirá vivo. Quem venerar o dinheiro e extrair dos bens materiais o sentido de sua vida nunca achará que tem o suficiente. Aquele que venerar seu próprio corpo e beleza, e o fato de ser sexy, sempre se sentirá feio - e quando o tempo e a idade começarem a se manifestar, morrerá um milhão de mortes antes de ser efetivamente enterrado.
No fundo, sabemos de tudo isso, que está no coração de mitos, provérbios, clichês, epigramas e parábolas. Ao venerar o poder, você se sentirá fraco e amedrontado, e precisará de ainda mais poder sobre os outros para afastar o medo. Venerando o intelecto, sendo visto como inteligente, acabará se sentindo burro, um farsante na iminência de ser desmascarado. E assim por diante. [http://nabruzundanga.blogspot.com/]
Deve ser isso que acontece, aquilo que eu venero me enfraquece, e faz com que eu nunca tenha o suficiente.
Eu venero o intelecto, a os sentimentos, a verdade, e sobretudo, venero a liberdade. São esses os ingredientes que sempre sinto falta, não importa o quanto eu tenha.
Você que convive comigo, perdoe se eu cobrar de mais.

quarta-feira, 16 de março de 2011

O problema é o beco

Então é assim, a vida vai indo, indo, indo, e quando você pensa que não foi, acaba fondo.
Não, eu não me encontro num beco sem saída, não é esse o meu problema. Saída o beco tem, e eu vejo claramente, o problema para mim é o beco. Algo que só permite um caminho, que te ausenta de opção.
Mesmo as coisas que eu mais gosto de fazer na vida, amor, poesia, música, comer, ensinar, pensar - entre outras tantas - tornam-se para mim menos interessantes, ou até mesmo fardos, quando tornam-se obrigações. Eu tenho levado uma vida repleta de obrigações nesses meus vinte e poucos anos. Sempre cobrei muito de mim, vaidoso que sou, não permiti espaço para falhas, ou para qualquer coisa que pudesse ser desaprovada por uma moral sólida e pesada que aprendi a por sobre mim mesmo.
Então, a duras penas, fui um filho quase impecável, um estudante exemplar, um cidadão consciente e solidário. um cristão compenetrado e caridoso, um namorado admirável, um amigo, um profissional, um acadêmico e qualquer outra coisa que eu tenha me posto a fazer, se não o melhor, o melhor que pude certamente.
Mas, em todo esse percurso, ficou muita coisa para trás, e delas eu sinto falta. De não estudar quando eu estava com preguiça, de fazer alguma "danação" de criança, de desobedecer, de dizer o que eu pensava e o que eu sentia ainda que fosse ser considerado desrespeitoso. Falta de experimentar o proibido, de aceitar os meus defeitos ao invés de lutar contra eles e escondê-los o mais que eu pudesse.
Sinto falta de falar de mais, de ser inconveniente, de mentir, de ser egoísta, de ser corrupto, e tudo mais que eu aprendi a combater.
Ter caráter custa caro, meus caros, eu sinto falta mesmo é de ser mais humano, como canta a chata da Zélia Duncan.
De uns tempos pra cá, eu nasci de novo, minha nova versão foi melhorada com algumas falhas, eu passei a me permitir. O problema é o beco. A minha vida continua a velha vida com um Diego novo, ela não me permite. E eu não sei se quebro as paredes e fujo, ou se sigo esperando que o outro lado valha a pena.