terça-feira, 10 de janeiro de 2012

Do desassossego

O mês de agosto tem gosto de remédio para verme, e talvez tenha o mesmo efeito, pois setembro é natal. Outubro é sempre às duas e meia da tarde, assim como novembro tem cheiro de feijão no fogo na hora da fome e é aquela agonia pra que o tempo passe.
Compreendendo que dezembro seja o instante feliz, que metáfora eu deveria utilizar para deixar bonito sutil e simples isso que é tão pouco compreensível e que por isso mesmo não carece de explicação?
Eu sei que aqui em casa a geladeira tá fazendo um barulho de trator e o tapete da sala se sente sozinho; o ventilador fica dizendo que não com a cabeça, o leite estragou e a cama está mal acostumada a me ter só para ela, mas tudo isso é janeiro.
De dezembro eu só sei dizer, talvez, que havia passarinhos na rodoviária e que o trânsito tentou me segurar com um abraço. Sei dizer que eu não ouvi as músicas de natal e que as luzes da cidade só brilharam nos meus olhos, de dentro pra fora. Sou incapaz de descrever o gosto, assim como não sei de cores. Talvez a textura do mês de dezembro se assemelhe à de uma mão de mulher, e talvez tenha cheiro de alguma coisa que remeta a um momento feliz da infância.
É muito pouco qualquer coisa que eu diga, mas o livro que grita o seu nome de noite como criança abandonada me ensinou que escrever o que eu sinto alivia a febre de sentir. Fosse ficção, queria a vida como um reggae do Gil: congregar, reunir elementos diferentes. Pois assim ela o é, e eu quero. Quero o alegre e o triste, cheiro de mato e internet, café e chocolate, o doce e o azedo, o leve e o pesado dessa coisa tão simples, 
incompreensível 
e única 
da presença
de você.

7 comentários:

iuli disse...

Dizer que está lindo já virou costume, né? Mas enfim...
Belas letras, belas histórias.

michelle disse...

"Pertenço, porém, àquela espécie de homens que estão sempre na margem daquilo a que pertencem, nem veem só a multidão de que são, senão também os grandes espaços que há ao lado."

michelle disse...

Sim, a Arte, que mora na mesma rua que a Vida, porém num lugar diferente, a Arte que alivia da vida sem aliviar de viver, que é tão monótona como a mesma vida, mas só em lugar diferente

Alice Alencar disse...

dá vontade de sair comentando em cada texto seu...! apaixonei-me perdidamente! E ja penso que você me conhce, e mais, que anda espionando a minha vida! O conto se sábado e esse desassossego são relatos meus, juro! eu só não me pus a escrever...

grande abraço! Adorei te ler!!

Diego disse...

Seja bem vinda, Alice, que bom que você gostou. Também tem um blog? Eu gostaria de ler. Abraço.

Alice Alencar disse...

Éverton Diego, não tenho um blog, mas posto meus poemas no recanto das letras, conheces?
aqui está o endereço da minha página:http://www.recantodasletras.com.br/autor.php?id=87342

Seja bem vindo ao meu recanto, a minha poesia!

Abraços!

Alice Alencar disse...

ahh, esqueci de comentar, esse seu texto me lembrou um personagem do livro de Fernando Sabino, O encontro Marcado. Era um velho que gostava de falar nas cores dos dias da semana, do sabor que elas tinham... adorei o agosto com gosto de remédio pra verme... é assim mesmo...! valeu!