sexta-feira, 18 de novembro de 2011

Conto de sábado

No dia seguinte, você me acordaria em muitas etapas, pois sabe do meu sono de manhã; primeiro com a sua ausência, que me acordaria um pouco, depois o cheiro de café, em seguida, você chegaria sorrateira e me faria um afago, e sorriria do meu mau humor que me faria resmungar absurdos sobre preferir morrer a ter que acordar; sorriria ainda quando eu reclamasse da sua insistência que eu sabia que era essencial, mas que nessa hora pareceria absurda. E você voltaria à cozinha e ficaria lendo alguma coisa sentada perto da porta enquanto eu me arrastava da cama pra tomar um banho que certamente lavaria o meu humor. Depois, quando eu chegasse renascido, encontraria você com olheiras e óculos, com o cabelo despenteado e preso de qualquer maneira, preferencialmente com uma caneta; você estaria vestindo a primeira camisa que viu no cabide [por favor, sempre esteja vestida numa das minhas camisas pela manhã] e simplesmente ignoraria a minha presença porque aquele momento seria só seu. Eu iria à mesa e poderia fritar alguns ovos, se você quisesse, e provavelmente faria piadas sobre as suas habilidades culinárias para chamar sua atenção; não funcionaria e eu teria que chegar atrás de você, te encher de beijos, tirar seus óculos ou roubar seu livro para que você finalmente olhasse pra mim.

Durante o desjejum eu faria apelos para que você se alimentasse melhor enquanto devorava tudo que is on the table, com exceção do seu book; largaríamos a louça suja na pia e voltaríamos à cama, que você faria questão de arrumar antes de deitar por pura mania, então eu ficaria tocando violão, que você ouviria feliz e atenta por um tempo, até começar a ver alguma coisa que para você fosse muito interessante no computador; e eu ficaria com ciúmes, talvez de uma conversa que você por ventura estivesse a manter com alguém na internet, talvez do maldito desse livro que você não desgrudava um segundo. Até que num consenso escolheríamos algum filme interessante ou um seriado de tv norteamericano e bobo para assistir. Ficaríamos deitados numa posição clichê de filme de hollywood e depois discutiríamos com elevado teor retórico de quem era a vez de lavar a louça; eu ganharia o debate, mas acabaria lavando; e no calor das duas da tarde, começaria a preparar o almoço, enquanto você soprava a minha nuca e num abraço enxugava o suor das minhas costas. Talvez eu quisesse assistir futebol na tv, talvez tivéssemos algum compromisso social ao cair da tarde, talvez dois compromisso sociais, cada um com o seu - não importa. Você anoiteceria do meu lado, ainda que não estivesse comigo e poderia fazer de uma noite de domingo [e não há nada mais deprimente que uma noite de domingo] um punhado de paz.

3 comentários:

Michelle disse...

Que sorte tem essa moça e esse moço...

Cândida disse...

Fanopeia muito feliz criada ao longo do texto. Daí a gente percebe que não precisa de muito para ser feliz.

iuli disse...

Ai, ai. Lindo!