quinta-feira, 29 de março de 2012

O silêncio que sucede o grito

Sempre reclamava. De tanto reclamar era poeta, literato, ou coisa assim. Escrever era uma maneira sofisticada de reclamar. Do mundo, da vida, e sobretudo do amor, ou qualquer coisa que se sinta. Tinha paixão pelo inalcançável, talvez para poder reclamar de nunca consumar o que desejava.
Reclamar era matéria e método de toda criação. Combustível dos neurônios, catalizador da substância intangível que chamam talento, dom, alma, ou mesmo deus.

[Passaram-se muitos carnavais, e depois do carnaval]

Já não havia o que dizer, pois não havia do que reclamar. Mesmo a má sorte que insistia em pequenos detalhes do dia-a-dia não era motivo. A falta de dinheiro pouco importava; nem chuva forte, nem café fraco. Só reclamava do silêncio. Do vácuo que deixava a falta de ter do que reclamar.

Ela não entendeu a tentativa de explicar: O silêncio é paz. Os versos de amor que não escrevia pra ela eram culpa do consumado: amor só é poema quando dói; quando silêncio, é felicidade.

Um comentário:

iuli disse...

Já até cansei de repetir as mesmas palavras por aqui.